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Agricultura orgânica: experiência que vem da terra

08 de junho, 2022 - por SENAR-SP

Produtores paulistas de orgânicos buscam formação constante e criam redes para espalhar conhecimento; certificação é fundamental para o negócio

Orgânico

Harmonia com a fauna e flora local, respeito ao tempo da natureza, manejo do solo, controle de pragas e adubação sem a utilização de compostos químicos sintéticos. De forma resumida, esta é a agricultura orgânica – que, nos últimos anos, tem atraído mais a atenção dos consumidores brasileiros. Segundo o Panorama do Consumo de Orgânicos no Brasil 2021, divulgado pela Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis), o país registrou aumento de 63% no consumo desse tipo de alimento na comparação com 2019, e de 106% em relação a 2017. Os produtores têm respondido rapidamente ao interesse do mercado: de acordo com o Ministério da Agricultura, o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos cresceu 10% entre 2020 e 2021.

O modelo de produção orgânica valoriza negócios de pequena escala. Segundo a Organis, itens de hortifruti respondem por 75% do consumo de orgânicos, seguidos de grãos (12%) e cereais (10%). Produtos processados, como açúcar e biscoitos, aparecem com 8% e 6%. Esse padrão vai de encontro à realidade de pequenos produtores e unidades familiares, principalmente os localizados próximo a centros de consumo. Atento ao crescimento da agricultura orgânica, o SENAR-SP mantém cursos voltados para esse tipo de cultivo há quase 20 anos. Atualmente, são oferecidos 4 programas que atendem necessidades gerais e orientam a produção de olericultura básica e específicas, como morango, batata e tomate orgânicos.

Mais saúde

O cultivo da saúde coletiva é dos grandes atrativos na produção de orgânicos. É o que conta Juliana Limonta, de São Bento do Sapucaí. “Trabalhamos com orgânicos há cinco anos e somos certificados há quatro. Definimos esse trabalho principalmente como o objetivo da manutenção da saúde das pessoas e preservação ambiental” diz a produtora raízes, tubérculos e, mais recentemente, de frutas – tudo no sistema agroflorestal. Experiência semelhante à de Dercílio Pupin, de Piracaia. “O principal atrativo da produção orgânica, para mim, é o prazer de cultivar saúde. Ver que é possível fazer do próprio sítio um organismo vivo, onde uma cultura ajuda a outra e todos se beneficiam. Viver em um ambiente saudável, lidando com o que você gosta e cercado de gente boa, ar puro, água limpa, passarinhos e vida por todo lado, o tempo todo”, define. Trabalhando com orgânicos desde 2006, ele também utiliza o sistema de agrofloresta, no qual o produtor busca reproduzir em suas terras a dinâmica florestal, com plantas de diferentes espécies convivendo lado a lado.

Já José Manoel da Silva, de São Bento do Sapucaí, teve uma guinada em sua trajetória. Produtor rural a vida toda, ele escolheu a agricultura orgânica como meio de transformar o próprio cotidiano. “Eu era produtor convencional, que utilizava agrotóxicos, e comecei a perceber que estava comprometendo a minha saúde. Hoje, estou me sentindo bem produzindo orgânicos, sabendo que os consumidores estão consumindo produtos saudáveis”, afirma. José Manoel produz banana, limão, batata yacon, milho verde e outras culturas, e desde 2009 é produtor orgânico certificado.

Mercado em expansão e desafios – Engana-se quem pensa que as plantações de orgânicos são limitadas. Além de frutas e vegetais, também é possível criar animais de maneira orgânica. A propriedade de Pupin, por exemplo, produz o ano todo, já que, por conta do sistema agroflorestal, diversas culturas podem ser incluídas no calendário de plantio. “Atualmente cultivamos 96 itens ao longo do ano, entre frutas, verduras, temperos, PANCs, galinhas caipiras, gado, abelhas apis melifera e meliponas, grãos e tudo o que conseguimos inserir em nossa agrofloresta”, diz.

O que não falta é mercado para absorver a produção. “É um nicho mercadológico que apresenta um crescimento exponencial, pois as pessoas estão cada vez mais preocupadas com a origem dos alimentos e os benefícios ou malefícios que podem trazer para sua saúde”, acredita Limonta.

Entre os desafios enfrentados pelos produtores de orgânicos, estão o custo de mão de obra intensiva, acesso a insumos especiais e a concorrência com produtos de lavouras convencionais, que acabam chegando ao consumidor com menor custo. Segundo Pupin, o fato de o mercado estar em expansão não significa que os consumidores estejam plenamente educados a respeito dos diferenciais da alimentação orgânica. “Temos que ficar mostrando constantemente para as pessoas que comida sem veneno é melhor para elas, para o meio ambiente e para o planeta. Parece óbvio, mas muita gente ainda prefere trabalhar e comer com agrotóxico”, observa.

Formação e apoio

O SENAR-SP oferece vários cursos de produção sem aditivos químicos. O Programa de agricultura orgânica, introdutório, ajuda o agricultor a adequar sua propriedade às normas governamentais e conquistar o cadastro para a venda direta dos produtos.

As variedades que contam com cursos de cultivo orgânico são a olericultura, tomate, batata e morango. Nos treinamentos, são apresentadas técnicas de cultivo, controle de pragas e aspectos mercadológicos.

Os cursos fazem a diferença na vida do produtor, contam Limonta e Pupin. “O SENAR-SP sempre foi o principal parceiro do nosso negócio. Tivemos a oportunidade de realizar curso de olericultura orgânica, compostagem, controle de pragas e doenças, que foram fundamentais para o aprimoramento das nossas práticas e para o sucesso do plantio”, conta a produtora.
Para o produtor de Piracaia, além dos conteúdos, as vivências junto ao SENAR-SP ajudam na troca de informações entre produtores da mesma região. “Já participei e recebi vários cursos aqui na propriedade e também em sítios dos colegas. A importância desses momentos formativos é justamente a troca de experiências e a reflexão sobre a sustentabilidade dos processos que envolvem cada cultura.
Sempre temos muito para aprender fazendo”, lembra.

José Manoel define o SENAR-SP como o lugar onde ele deixou de ser produtor de lavoura convencional para abraçar o mundo orgânico. “Tive a oportunidade de participar de vários cursos. O que eu sei hoje é graças a eles. É onde me tornei produtor orgânico”, declara.

Dicas para produtores e certificação – A certificação é uma ferramenta boa para produtores e consumidores, e buscá-la é uma das primeiras orientações dadas aos produtores. No Estado de São Paulo, existem diversas entidades e procedimentos de certificação de produção orgânica. Segundo Limonta, uma vez com o selo, o produtor fica mais seguro a respeito da propriedade e da recepção do seu produto entre os consumidores. “A certificação orgânica é um fator importante de garantia para o consumidor de que o alimento que está colocando em sua mesa está sendo produzido sem o uso de adubação química ou defensivos. Além disso, que as pessoas que trabalham têm todos seus direitos garantidos, sabendo que o meio ambiente será preservado.

Já Pupin destaca outra vantagem da certificação: o contato com produtores e fortalecimento dos grupos. “Pertenço à Organização de Controle Social Paineiras de Piracaia e Região. Mais do que um selo, é um trabalho em conjunto onde um grupo de produtores orgânicos se apoia, discute seus desafios, trabalha em conjunto e tem a supervisão do Ministério da Agricultura. A participação é aberta à comunidade e a entrada de novos produtores é sempre bem-vinda”, define Pupin.

Os produtores também dão outras dicas para quem deseja se dedicar à produção de orgânicos. “O fator mais importante é um bom planejamento entre plantio e venda. No escoamento, é preciso ter bem definido quais os canais e clientes onde seus produtos serão vendidos. Também é preciso associar o manejo do plantio com insumos que estejam presentes ou disponíveis próximo do local, implantar práticas de recuperação e proteção do solo e plantar em diversidade para reduzir a possibilidade de ataque de insetos e pragas”, explica a produtora de São Bento do Sapucaí.

Para Pupin, o segredo é entender que cada espécie tem seu tempo e particularidades, pois o plantio orgânico não pode partir de uma concepção massificada e padronizada dos cultivares. “É preciso entender o tempo, o lugar e o benefício de cada cultura dentro da propriedade. Com isso, fica mais fácil trabalhar com toda forma de vida e ter mais resultados a cada dia”, garante.

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