Valorização do preço da laranja reflete os desafios da atividade
Entre eles, na pauta da reunião da Comissão Técnica de Citricultura da FAESP, o avanço do greening e seu impacto na produtividade dos pomares na safra 2024/25
O clima é de grande expectativa entre os citricultores paulistas. Os baixos estoques de suco de laranja, somados a uma estimativa de redução da safra 2024/25, têm mantido em alta os preços da laranja de mesa e da indústria. A Comissão Técnica de Citricultura da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), que se reuniu na última quinta-feira (06) em Cordeirópolis, onde acontecia a ExpoCitros, alertou, contudo, que o cenário positivo de preços está associado a uma previsão de queda de produtividade nos pomares de 24%, em relação à safra anterior – em função do avanço do greening –, o que pode reverter a relação favorável de preços e custos para o citricultor paulista.
“A produtividade mais baixa eleva ainda mais os custos unitários de produção que, na atual temporada, em relação ao controle do greening e contratação da mão-de-obra para colheita estão mais caros. Mesmo que a remuneração seja maior, para muitos citricultores, a depender da realidade de cada um quanto ao nível de produtividade obtido nos pomares, a rentabilidade pode ficar reduzida”, comentou o coordenador da Comissão, José Eduardo de Paula Alonso.
Se consolidada, a temporada atual será a segunda menor da série histórica iniciada na safra 1988/89. A florada, iniciada em maio de 2023, aconteceu sob estiagem ocasionando estresse hídrico. Os pomares também sofreram com ondas de calor a partir de setembro e tiveram como consequência um aumento na taxa de queda (18,5%, em função do greening, déficit hídrico e incidência de pragas). A previsão é de que o clima continue seco nos próximos meses, então, os impactos podem ser mais significativos.
O primeiro levantamento do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) indica que a safra de laranja 2024/25 do cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro deve ser 24,4% menor que a de 2023/24, totalizando 232,4 milhões de caixas de 40,8 kg. Já a estimativa para a produtividade média é de 691,0 caixas por hectare, uma queda de 24% na comparação com a safra 2023/24, que teve rendimento de 911,4 caixas/hectare.
Quanto aos preços, na apresentação feita pelo departamento econômico da FAESP, em maio, os produtores paulistas receberam, em média, R$ 80,2 pela caixa de laranja pera in natura (na árvore), um recuo de 12% ante o mês de abril, porém, é esperado um novo impulso nas cotações devido à destinação da fruta de mesa para atender a demanda aquecida das indústrias de suco. Ainda assim, a laranja pera foi negociada 86% acima da remuneração média recebida no mesmo período do ano anterior.
Em relação à comercialização da laranja destinada à indústria, novo recorde de preço negociado no mês de maio, alcançando a média R$ 66,5 a caixa de 40,8kg, colhida e posta na fábrica. E com a oferta abaixo da procura, as propostas das indústrias já superam valores acima de R$ 80,00/cx. 40,8kg, em contratos novos e de longo prazo.
Greening
O diretor do Centro de Defesa Sanitária Vegetal (CDSV-CDA), Adão Marim, reiterou a importância da entrega dos relatórios do greening pelos citricultores, em cumprimento à Portaria CDA-05/19 e à Resolução SAA- 88/21. Os relatórios são parte do programa nacional de prevenção e controle do greening, instituído pela Portaria MAPA 317/21, e se constituem em importante ferramenta de diagnóstico que orienta o planejamento das ações da Coordenadoria de Defesa Agropecuária (CDA).
Em 2023, de acordo com os dados tabulados pela CDA, a partir dos relatórios de inspeção entregues pelos produtores, cinco milhões de plantas com sintomas de greening foram erradicadas de propriedades paulistas inspecionadas que se dedicam à produção comercial de laranjas, um aumento expressivo de 48,5% frente a 2022. Para 2024, é esperado novo ápice de infestação.
O controle da doença se mantém, portanto, desafiador e de extrema importância para os citricultores paulistas. E, para apoiá-los nesta árdua tarefa, foi mencionado a liberação pelo governo do Estado de uma linha de crédito pelo Fundo de Expansão do Agronegócio Paulista (FAESP). A Deliberação CO-06, de 03 de maio de 2024, estabeleceu o teto de financiamento de R$ 300 mil por produtor, com até 96 meses para pagar, carência de 36 meses e juros a partir de 3% ao ano.
No Citri manejo da Syngenta, apresentado pelo engenheiro Luís Fernando Ulian na reunião, a estratégia de controle do psilídeo está pautada na redução de sensibilidade do inseto vetor aos produtos químicos utilizados. O controle proposto rotaciona diferentes modos de ação dos inseticidas, a cada 10 dias, diferentemente da pulverização quinzenal constituída da aplicação entre 60% a 70% de inseticidas piretróides.
A Comissão de Citricultura da FAESP foi convidada para uma visita ao laboratório da Syngenta, em Holambra/SP, bem recepcionada pelos membros, para conhecer mais sobre as pesquisas, inovações e tecnologias da empresa em andamento e disponíveis para o combate ao greening.
Revisão da Portaria MAPA 317/21
Espera-se para o segundo semestre, a publicação de novo texto que substituirá a Portaria 317/21, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A revisão em andamento irá definir uma nova estratégia nacional de prevenção e controle do greening.
Em discussão, a proposta do manejo integrado e regional a ser realizado por produtores de uma mesma região. Isso dará espaço para a CDA atualizar a legislação paulista, propondo a adoção de medidas preventivas e de controle da doença, de acordo com a realidade de cada região produtora do estado. Em regiões citrícolas onde o índice de incidência do greening é muito alto, o manejo integrado e regional proporcionará alternativas para manter a viabilidade e rentabilidade da citricultura nestes locais.
“Essas reuniões itinerantes das comissões são importantes para ver in loco os desafios dos produtores e as expectativas da cultura, ouvindo sugestões e podendo ajudar na construção de estratégias para melhorar a performance do campo. Desenvolver a agropecuária paulista, levando-a a um novo patamar, é a missão da Faesp”, frisou o presidente da Faesp, Tirso Meirelles.
Entre as ações propostas está o trabalho conjunto com a CDA para a realização de palestras de orientação aos citricultores paulistas sobre as mudanças que acontecerão nas legislações do greening e cancro cítrico. Representantes Associação Brasileira de Citros de Mesa (ABCM) pediram também o desenvolvimento de curso do Senar-SP específico para classificadores de citros e selecionadores de frutas nas casas de embalagens.
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