Home » Do Solo à Xícara

Do Solo à Xícara

16 de dezembro, 2022 - por FAESP/SENAR-SP

Sistema FAESP/SENAR-SP apoiou Seminário sobre Cafés Especiais da Cuesta Paulista, realizado em Pardinho

No último dia 9, um grande evento em Pardinho marcou o Dia Mundial do Solo, comemorado em 5 de dezembro pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação). Realizado no sítio Daniella, o Seminário Cafés Especiais da Cuesta Paulista: Do Solo à Xícara foi uma oportunidade muito rica em aprendizados e troca de experiências, que teve a participação de cerca de 170 pessoas e foi promovido pelo sistema FAESP / SENAR-SP e Sindicato Rural de Pardinho. O evento deu continuidade a uma série de iniciativas dos organizadores na região, propiciando um bate-papo prático sobre solos, onde a cafeicultura começa e se revelam os segredos dos cafés especiais.

“O Seminário fechou com chave de ouro um ano que foi muito importante em eventos sobre cafés. A presença maciça dos produtores e o nível de excelência dos palestrantes mostram que o café da região vem ganhando muito em qualidade e credibilidade”, analisou Daniella Pelosini, anfitriã dos convidados em sua propriedade. A data também marcou o momento em que Lourival Raniero, presidente do Sindicato Rural nos últimos 40 anos, transmitiu o comando da entidade para Daniella.

A programação contou com palestras do Dr. Aldir Alves Teixeira, diretor da Experimental Agrícola do Brasil / illycaffè; Diego Siqueira, presidente da Quanticum; Celso Luis Rodrigues Vegro, do IEA (Instituto de Economia Agrícola) e Raquel Nakazato Pinotti, da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios).

Dr. Aldir, engenheiro agrônomo, abordou os 10 mandamentos da qualidade no café e o surgimento do café especial, marcado pela implantação de técnicas agronômicas e a valorização da qualidade da bebida com as iniciativas da renomada empresa italiana illycaffè.

A palestra do pesquisador do IEA, engenheiro agrônomo Celso Luis Vegro, enfocou o ambiente de negócios no mercado cafeeiro, que tem se mostrado muito volátil nos últimos dois meses. “Essa instabilidade traz muita insegurança aos cafeicultores pois, com o aumento dos custos de produção e os periódicos distúrbios climáticos (geada, estiagem, granizo), muitos podem não alcançar rentabilidade sustentável para seu empreendimento”, analisou o pesquisador. Ele versou justamente sobre a necessidade de posicionamento estratégico da produção (enfatizando a necessidade de contratação de seguro) e da comercialização, com utilização de ferramentas que tragam melhores chances de acerto diante de perspectivas ligeiramente favoráveis aos cafeicultores para os preços futuros.

O presidente da Quanticum destacou que o evento propiciou a inclusão tecnológica dos agricultores, que tomaram conhecimento de técnicas sustentáveis para o plantio e puderam esclarecer suas dúvidas ao final. “Além de atualizar o produtor sobre as boas práticas em suas propriedades, o Seminário também foi uma ferramenta para promover o letramento científico, aproximando os produtores da ciência e destacando sua importância no dia a dia do cafezal”, disse Diego. Para a pesquisadora Raquel, que falou sobre o modelo de APL (Arranjos Produtivos Locais), “foi muito interessante ver um grupo de cafeicultores unidos em busca de conhecimento, o que enriquece também o networking”.

O Seminário contou ainda com a venda de produtos regionais, como queijos, mel e artesanatos, elaborados por produtores e artesãos que passaram pelos cursos do SENAR-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), além de vinhos da Vinícola Refúgio. Empresas apoiadoras, como John Deere, Coopercítrus, Cimoagro e Terra Verde, também participaram com estandes, transformando o evento em uma grande feira de negócios. “Tivemos caravanas de Bofete, Pratânia, São Manuel e outros municípios do entorno”, comemorou Luciane Correia, coordenadora do Senar no Sindicato Rural.

Ao final, houve a premiação do 4º Concurso de Cafés Especiais da Cuesta Paulista, cujos vencedores foram: Laerte Pelosini Filho, do Sítio Daniella (Pardinho), na categoria Cereja Descascado; Alberto Samaia Neto, da Fazenda Amor Espresso (Brotas), na categoria Cereja Natural; Adelfo Negreiros, do Sítio Santa Mônica (Dois Córregos), na categoria Micro Lote e Anna Maria Maurício da Rocha Pinotti, da Fazenda São Pedro do Pardinho, na categoria Nano Lote. O Sindicato Rural homenageou também o produtor Luis Carlos Basseto, de São Manuel, presidente da Cooperativa de Cafés Fair Trade da região da Cuesta, pelo seu empenho em comercializar os cafés da região no Brasil e no exterior.

Vale lembrar que, no território paulista, as “cuestas” (ou encostas) cruzam o estado no sentido nordeste-sudoeste, sendo proeminente nos municípios de Botucatu, Pardinho, São Pedro, Itirapina, Analândia, Descalvado, Torrinha, Brotas, São Carlos, Santa Rita do Passa Quatro e Altinópolis, dentre outros. O estado é o terceiro maior produtor e terceiro maior exportador de café, conforme dados do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), de 2020.

A importância da ciência

Em sua palestra, o presidente da Quanticum destacou a importância do solo na qualidade do café brasileiro que o consumidor aprecia, seja na Índia, no Estados Unidos ou no Japão. “Quando alguém bebe o café brasileiro, não está apenas ingerindo cafeína, mas está tomando ciência do solo brasileiro”, disse o cientista. Sua empresa faz um verdadeiro mapeamento genético da propriedade de cada cliente a fim de melhorar a produtividade de forma sustentável, como foi elaborado no sítio Daniella, que sediou o evento.

Ele destacou que, em geral, não temos consciência da importância do solo para nossa sobrevivência. “Nós conseguimos sobreviver no planeta por conta dos 20 centímetros de solo abaixo da superfície, onde estão cerca de 85% dos nutrientes que toda planta precisa”, ensinou. Diego também abordou a importância das boas práticas de plantio para diminuir o impacto sobre o solo e nas mudanças climáticas.

“Precisamos entender melhor o solo e suas características”, defende o cientista. “Além disso, precisamos pensar em políticas agrícolas que priorizem não só a biodiversidade, mas também o solo, que é a base de tudo. Afinal, temos de proteger os biomas, mas olhando para o solo como parte essencial”. Outro desafio, segundo ele, é conseguir adaptar a metodologia científica, para que tanto os pequenos como grandes produtores se apropriem das descobertas da ciência brasileira, para benefício de suas propriedades.

Arranjos Produtivos Locais

“Estamos fazendo um mapeamento para identificar grupos que tenham potencial de se tornar uma APL e os produtores de Pardinho têm essa vocação, claramente”, definiu a pesquisadora da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, um braço da Secretaria de Agricultura e Abastecimento. Por meio dos Arranjos Produtivos Locais, a Secretaria fomenta a união de forças entre os municípios em busca de objetivos comuns.

“Quando os produtores se aliam numa associação ou alguma organização coletiva, eles alcançam uma expressividade muito maior”, defendeu a pesquisadora. Além disso, o produto ganha em valor agregado e visibilidade. “As pessoas acabam identificando, por exemplo, a APL do café, não só na região, mas em âmbito nacional. E os produtores podem utilizar essa condição como uma certificação ao produto, que se torna um diferencial na comercialização”.
Celebrando os bons resultados do Seminário, os organizadores já planejam eventos similares para 2023 a fim de capacitar e estreitar os laços entre os cafeicultores. Afinal, o café paulista está ganhando terreno e conquistando consumidores cada vez mais exigentes, tanto no mercado nacional quanto internacional.

Galeria

    Assine nossa newsletter

    Compartilhe

    Tags

    Deixe seu comentário