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O ensino que transforma a realidade dos homens e mulheres do campo

24 de fevereiro, 2022 - por SENAR-SP

Voltado a jovens e adultos, Programa de Alfabetização para Trabalhadores Rurais sem Escolaridade, do SENAR-SP, contribui para melhorar qualidade de vida no campo.

O motorista João Ferreira, de Echaporã, pode voltar a estudar com o Programa de Alfabetização do SENAR-SP.
Foto Arquivo FAESP/SENAR-SP

A oferta de ensino público no Brasil sempre foi um imenso desafio. No Estado de São Paulo não é diferente, especialmente no meio rural. Segundo dados do censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 9% da população paulista com 15 anos ou mais, que mora e trabalha no campo, não é alfabetizada (dados de 2010). Com o objetivo de reduzir esse número e melhorar as estatísticas na Educação de Jovens e Adultos – EJA, o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-SP) oferece o Programa de Alfabetização para Trabalhadores Rurais sem Escolaridade há 22 anos. Tem por objetivo alfabetizar para o aprendizado da leitura e escrita, interpretação de textos, estudo da matemática, história, geografia, ciências, sendo complementado com outras áreas do conhecimento.

O sistema FAESP/SENAR-SP e os Sindicatos Rurais reconhecem a necessidade de contribuir com quem vive no campo. Este esforço de preparar jovens e adultos do meio rural, produtores, trabalhadores e seus familiares, possibilita mais chances de acesso ao emprego, fixa essas pessoas no campo e, consequentemente traz melhoras nas condições de vida. Além disso, permite que participem de outros cursos do SENAR-SP para obter novas qualificações.

No período de 1997 a 2000, o SENAR-SP firmou convênio com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) para desenvolver o Programa de Alfabetização. A partir de 2004 o SENAR/SP retomou o projeto como um programa próprio, que até hoje é disponibilizado em todo o Estado. Em 2021 foram formadas 40 turmas, somando 323 participantes. A carga horária é de 300 horas distribuídas em 120 dias de aulas, portanto, um total de 12 mil horas/aula somente em 2021.

O Gerente do Sindicato Rural de Inúbia Paulista, Crystian Martins Dias, acredita que muitos alunos preferem buscar o programa do SENAR/SP, por ser mais atrativo que o ensino convencional oferecido pela rede pública. “Houve ocasiões em que tínhamos uma turma com 15 ou 20 alunos enquanto a escola estadual tinha apenas dez”, comenta. Segundo ele, a média de idade dos alunos gira em torno de 35 anos e a metodologia adotada no Programa do SENAR/SP permite que todos se sintam à vontade em sala de aula. “O sindicato tem uma sala para as aulas, mas em algumas ocasiões faz parcerias com Prefeituras em Municípios da nossa extensão de área, para formar turmas próximas aos locais onde os alunos moram”, ressalta. Como muitos participantes trabalham durante o dia, o horário das aulas é sempre no período noturno. A facilidade de acesso, a gratuidade dos materiais de ensino e a alimentação oferecida pelo SENAR/SP também é um atrativo para que não haja evasão escolar.

Em Echaporã, campo de atuação do Sindicato Rural de Assis, não há EJA desenvolvido pela rede pública, assim, desde 2017 o SENAR-SP tem contribuído para mitigar o analfabetismo local, segundo Juliana Bresciani, Coordenadora do SENAR-SP pelo Sindicato Rural de Assis.

Revela que foram atendidos cerca de 80 alunos desde então. “O município tem um número alto de pessoas sem escolaridade e o impacto positivo é muito grande, pois os estudantes melhoram seu desenvolvimento, comunicação, o relacionamento profissional, pessoal e familiar”, ressalta.

Em geral, as aulas são realizadas na escola municipal ou em locais indicados pela Prefeitura Municipal. Os meios para de locomoção para se chegar na sala de aula, varia de acordo com as necessidades, uns se deslocam a pé, a cavalo, de bicicleta, moto ou até mesmo de ônibus escolar, quando há parceria com a Prefeitura do município.

Os esforços para que haja adesão no Programa também estão presentes na divulgação, feita por meio de redes sociais, carro de som, avisos nas missas e cultos, reuniões com líderes comunitários e futuros alfabetizandos e principalmente visitas às residências dos(as) trabalhadores(as) rurais, a fim de sensibilizá-los a participar do Programa.

O motorista de caminhões, João Ferreira, 77, participou do Programa em 2017, ao lado da esposa. Quando criança chegou a estudar, mas acabou desistindo devido as dificuldades cotidianas. Chegou a aprender operações básicas de matemática, mas acabou esquecendo. “O Programa desenvolveu muito minha cabeça, foi importante e muito bom para mim”, declara emocionado. Ele ficou tão empolgado que participou, recentemente, de aulas de inclusão digital também pelo SENAR-SP. “Aprendi um pouquinho. Não tenho prática com isso aí, nunca estudei nem datilografia, mas eu quis fazer assim mesmo”, conta, revelando que irá fazer outros cursos.

Sobre a metodologia do Programa

Para uma parcela significativa de trabalhadores rurais tarefas simples, como escrever uma carta ou acessar aplicativos e sites bancários, se tornam difíceis pela falta do ensino básico, o de saber ler e escrever. Iniciativas como o Programa oferecido pelo sistema FAESP/SENAR/SP fazem toda a diferença na vida de muita gente, preenchendo uma lacuna relevante para o desenvolvimento dos principais atores do Programa, os educandos do meio rural.

As disciplinas são interdisciplinares, entre elas estão a Matemática, Língua Portuguesa, Geografia, Ciências Naturais, Música, Saúde, Meio Ambiente, Cidadania e Artes, voltadas para a andragogia (educação de adultos).

A metodologia proposta é centrada nos princípios filosóficos de Paulo Freire, na teoria da construção do conhecimento e da dialética, em que o educando passa da consciência ingênua para a crítica. Assim, possui o poder transformador, em que o educando passa a ter autonomia, sendo capaz de reescrever o curso de sua própria história.

Os conteúdos partem da realidade dos educandos e da organização destes dados pelos educadores.

Nesse processo surgem os Temas Geradores e Palavras Geradoras, conhecidos como universo vocabular, extraídos da prática de vida dos educandos, em que cada pessoa, cada grupo envolvido na ação pedagógica constrói novos conhecimentos. O importante não é transmitir conteúdo específicos, mas despertar uma nova forma de relação com a experiência vivida de cada alfabetizando.

A metodologia vai além dos ensinamentos convencionais de leituras de textos, registros em cadernos, trabalhos coletivos e individuais de sala de aula, insere-se em outros contextos e espaços favorecendo o ensino e a aprendizagem dos educandos no campo pessoal, social, político e do trabalho, ampliando o conhecimento global.

Durante o Programa e principalmente quando está próximo ao seu término, fica evidente a transformação destes atores, o medo se transforma em saberes necessários, pois pegar um ônibus se torna simples e seguro, as letras são carregadas de significados, o de saber ler e escrever e compreender o que está escrito.

O lápis já não é pesado como a enxada, a calculadora, o celular, o caixa eletrônico passam a fazer parte do dia a dia, tarefas simples e importantes para os que dispuseram a aprender independentemente da idade, explica a Coordenadora do SENAR/SP do Sindicato Rural de Assis, Juliana Bresciani.

Como participar

A partir de março novas turmas terão início; ainda é possível se inscrever, basta procurar o Sindicato Rural de sua região.

Com a implantação do Programa almeja-se que produtores rurais e seus familiares superem o analfabetismo; adquiram autonomia com vistas à participação nos diversos espaços sociais; sensibilizem-se para a importância da aprendizagem ao longo da vida, promovendo o desenvolvimento pessoal, integração social, participação na sociedade e melhoria da condição de vida dos homens e mulheres do campo; e adquiram conhecimentos em geral que contribuam para o ingresso no mercado de trabalho mais bem preparados ou até mesmo o aperfeiçoamento quando já inseridos.

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