Curso do SENAR-SP capacita mão de obra para o cultivo do Cacaueiro
Estado de São Paulo trabalha para aumentar a produção de cacau; maior difusão depende de viveiros de mudas
Cultura tradicional na Bahia, o cacau está expandindo seu reino para o estado de São Paulo. As vantagens da cultura são muitas. Por ser produzido em consórcio com outras variedades, como a banana, o cacau representa uma importante fonte de diversificação para os produtores rurais. De um lado o projeto Cacau SP, da Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo fomenta a produção do fruto, enquanto que o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR-SP) cuida da formação profissional.
O fácil acesso à indústria e ao mercado consumidor também fomenta o plantio – sobretudo porque o fruto do cacaueiro tem diversas aplicações e destinos, da indústria alimentícia à cosmética, além do consumo in natura. Cacau em pó, chocolate e manteiga são alguns dos produtos que saem da lavoura, trazendo agregação de valor ao produto do campo. Andrey Vetorelli é engenheiro agrônomo, extensionista da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI), e conta que existe uma verdadeira “força tarefa” para elevar o cacau paulista a um novo patamar. “O cacau vem para o estado como opção de diversificação. Nesse caminho, há parcerias entre entidades como a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (CEPLAC), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), instituições estaduais de ensino e pesquisa e empresas do setor. E tem o SENAR-SP, que trabalha na capacitação do homem do campo para o cacau”, diz. E tudo isso por um bom motivo: há muita demanda pelo produto em São Paulo.
Vantagens da cultura
“Do ponto de vista do produtor rural, a oportunidade é que o cacau vem em casamento com outra cultura. Pode ser figueira, eucalipto, bananeira. Você tem geração de renda em vários aspectos e épocas”, diz Vetorelli. Outro aspecto positivo do consórcio mencionado no início é que ele propicia mais renda na mesma área e a otimização dos recursos. “Se eu irrigar, estou irrigando duas culturas, não duas; se controlo mato, a mesma coisa”, acrescenta.
O produto também apresenta vantagens econômicas. Entre elas, o fato de que o cacau é uma commodity, com preço estabelecido em bolsa de valores e liquidez na venda, como soja, milho e boi. Os compradores são vários e a demanda é ampla. A geração de renda na região produtora é favorecida, sobretudo ante a possibilidade de fornecimento para negócios e indústrias locais. “Outro ponto é o apelo ambiental. O cacau sequestra bastante carbono, previne a erosão do solo e mantém corredor para a fauna local”, completa.
Onde o cacau está?
A produção de cacau em São Paulo está concentrada em duas regiões, uma de cultivo mais tradicional e outra recente. A área mais antiga é no litoral, que soma em torno de 200 hectares. E existe a área recente, o noroeste paulista, com São José do Rio Preto, Barretos, Catanduva, Votuporanga, Fernandópolis e região. “Essa área que está começando tem entre oito e sete anos de implantação. O cacau está bem esparramado por ali, porque os produtores por enquanto estão plantando áreas pequenas para conhecer a cultura, ver o seu desenvolvimento. Estamos trabalhando para mostrar o cacau como cultura consorciada e mais uma opção de diversificação na propriedade rural”, diz Vetorelli.
Para crescer e conquistar novos espaços e mercados será preciso vencer algumas barreiras. As principais dizem respeito à própria familiaridade do produtor com a cultura e com o acesso a mudas. “A principal questão atualmente é a indisponibilidade de material genético e acesso a mudas. Existem poucos viveiros, e as mudas vêm de longe, da Bahia e Espírito Santo, o que encarece os plantios”, afirma. Mas isso está mudando. O poder público está investindo na produção e venda de mudas, problema que deve ser atenuado no médio prazo. A questão de mudas afeta o cacau em todo o Brasil, o que leva a uma questão econômica importante: atualmente o País importa cacau. Por isso, é de interesse nacional que áreas não tradicionais, como São Paulo, comecem a produzir o fruto.
Diante de toda esta demanda apresentada e considerando que que a Missão do SENAR é “Realizar a Educação Profissional, a Assistência Técnica e as atividades de Promoção Social, contribuindo para um cenário de crescente desenvolvimento da produção sustentável, da competitividade e de avanços sociais no campo”, o SENAR/SP elaborou um curso voltado para a cultura, com a finalidade de capacitação de mão de obra para o cultivo do Cacaueiro.
Histórias do SENAR-SP
Maria Miatello é produtora rural de Nova Granada, região metropolitana de São José do Rio Preto. Ela trabalha no campo há 20 anos e está entre os alunos recentes do curso “Cacau – Plantio, manejo e colheita”, do SENAR-SP. “Estou produzindo couves, repolho, berinjela e mandioca, e já começamos com o plantio de cacau em conjunto à banana. Eu sempre quis essa cultura porque é uma planta perene, com renda anual. Depois que conheci as possibilidades do cacau me identifiquei muito e quis aprender”, diz.
O curso tem carga horária de 16 horas, com um módulo teórico e os demais práticos, que abordam questões como tipos de muda, implantação, irrigação, doenças, poda, colheita e pós-colheita. “O curso foi muito bom e bem ministrado. Aprendi muito, principalmente sobre a condução do plantio e rentabilidade da cultura. Vi que é possível produzir bem e nos ajudar a ter renda adicional”, avalia a produtora.
“O curso é bem abrangente. Há um dia teórico, em que é explicado o que é o cacau, o mercado, questões econômicas, comércio, indústria, aspectos regionais, clima, todo o contexto técnico, produtividade, quanto tempo fica em flor, manejo, poda, irrigação, pragas, colheita, armazenagem, qual cultivar escolher”, explica Andrey Vetorelli, que também é instrutor do SENAR/SP. O segundo dia aborda análise de solo, aspectos da muda, linhas de gotejo, irrigação, adubação de cova, espaçamento, plantio e manejo. Falamos sobre o suplemento inicial, que pode ser com telinha, bolhas, quebra vento ou muda de banana. E a escolha da área, levando em conta sol, vento e proximidade com a água”, detalha.
O próximo passo, que os alunos já têm demandado curso, é o processamento. “Colhi, o que eu faço agora? Posso fazer chocolate na propriedade, posso fazer a polpa, utilizar a cabaça para alimentação animal? Tudo isso pode ser feito”, indica Vetorelli. Suco de cacau, sorvete, cacau em pó são outras alternativas. “É um segundo curso que pretendemos apresentar, pois existe a demanda. A pandemia segurou o oferecimento, mas estamos voltando com muitas ideias”, anima-se Vetorelli.
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