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O peso da guerra sobre a carne brasileira

25 de abril, 2022 - por FAESP

Sanções e bloqueio de cadeias internacionais de comércio fecham as portas da Rússia à carne brasileira

O desenrolar da guerra entre Rússia e Ucrânia tem provocado diversos entraves no comércio internacional, com reflexos em diferentes cadeias produtivas. Entre elas, a de proteína animal brasileira. A Rússia é um dos principais mercados da carne bovina exportada pelo Brasil, e desde o início do conflito, em fins de fevereiro, redes de comércio com o país do leste europeu foram suspensas. Importante produtor de insumos agrícolas a nível global, a Rússia também pressiona o restante do mundo ao contribuir com a queda de oferta de cereais e de fertilizantes. “É um tabuleiro complexo”, sintetiza Cláudio Brisolara, Gerente do Departamento Econômico da Faesp.

Carne bovina na berlinda

É impossível falar do boi brasileiro sem mencionar a Rússia. Em 2021, o país europeu foi o 10º principal destino da carne bovina brasileira, correspondendo a 1,8% do volume e a 1,46% dos valores de exportação, somando US$ 116 milhões. Contudo, as exportações de 2021 para a Rússia foram menores, por razões comerciais e sanitárias, uma vez que em 2020 as exportações foram de 51,3 mil toneladas, totalizando US$ 184,8 milhões.

“O primeiro impacto que esse conflito traz é a dificuldade de exportação para esses países. O mercado russo de carne bovina é importante para o Brasil, pois em 2021 exportamos 28 mil toneladas de carne bovina in natura”, afirma o engenheiro agrônomo. A exportação da carne bovina brasileira é concentrada na Ásia, mas isso não tira da Rússia sua relevância comercial. “China e Hong Kong são os maiores mercados, que sozinhos respondem por mais de 50% do que exportamos. Mesmo assim, a Rússia está entre os maiores destinos, e o fato de estarmos enfrentando dificuldade para exportar, por conta de restrições, transporte e sanções internacionais, sem dúvida é relevante”, pondera Brisolara.

O tema da exportação difere nos casos das carnes suína e de aves. “No mercado de carne suína a Rússia é o 20º destino da produção brasileira, o que é relativamente pouco. Na carne de frango a participação da Rússina é mais relevante, sendo o 11º mercado, com 105 mil toneladas e receita de US$ 167 milhões de dólares”, observa Brisolara. Esses mercados podem vivenciar de maneiras diferentes os efeitos colaterais da guerra. É o caso do frango, que, segundo analistas, pode encontrar na guerra uma oportunidade de crescimento de mercado. Isso porque a Ucrânia é um grande exportador de carne da ave para outros países europeus. Sem esse player em campo, outros países, como o Brasil, podem ocupar mercados desabastecidos.

Já a relação direta entre Ucrânia e Brasil é incipiente, já que o país não possui grande expressão para o mercado brasileiro nos mercados de proteína animal.

Reações em cadeia

Além da dificuldade de se ultrapassar fronteiras do leste europeu no momento, a combinação de fatores globais, como alta nos custos logísticos e em diversos insumos da cadeia produtiva, contribuem para que a carne brasileira fique mais valorizada no mercado.

“O segundo aspecto da guerra que impacta a proteína animal brasileira é o encarecimento do custo de energia elétrica e combustível, mas principalmente pela via do petróleo, importante para o transporte, na aquisição de matérias-primas e escoamento da produção. Com o petróleo subindo, todos os demais custos se elevam”, observa Brisolara.

A Rússia é um dos maiores produtores de trigo do mundo. Com a guerra, o preço do cereal também subiu. “Isso traz impacto no custo de aquisição de grãos, que estão subindo no mundo inteiro e são o insumo para produção de aves e suínos. O custo tende a aumentar por conta da correlação de preço, pois há um efeito substituição que promove a transmissão dos choques entre as diferentes commodities agrícolas”, explica Cláudio Brisolara.

Por fim, há o fator fertilizantes, cuja chegada ao Brasil também tem sido prejudicada pelo conflito. “Cerca de 80% dos fertilizantes utilizados no Brasil são importados. Nosso país tem tido dificuldade de abastecimento, e isso faz com que o custo de produção de grãos aumente mais, o que será sentido na próxima safra de grãos. Os suinocultores e avicultores já estão reclamando do custo da ração, pois já estão com margens negativas e vão diminuir a produção pra diminuir os prejuízos. Isso trará impacto ainda maior em curto, médio e longo prazos, inclusive no mercado interno”, explica.

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