Não é bem assim, ministro!
Fábio de Salles Meirelles*
Por melhores que tenham sido as intenções do ministro da Economia, Paulo Guedes, ao minimizar os impactos do aumento das tarifas de eletricidade, talvez para tentar manter o ânimo da sociedade, a verdade é que a majoração tem consequências graves para a economia, as famílias e as empresas brasileiras. Sabidamente, as tarifas de energia, depois da gasolina (5,95% do IPCA), são as que têm o maior peso específico na inflação, com um índice de 4,50%. Ademais, a conta de luz já subiu, em média, 20% nos últimos 12 meses, onerando os custos de produção de todos os ramos de atividade.
Para o setor agropecuário, o aumento do insumo tem influência significativa nos custos de produção. É preciso lembrar que ele tem crescente aplicação no campo, que vai incorporando tecnologias, sistemas de irrigação e outros processos que demandam eletricidade. Por outro lado, também temos consciência sobre o potencial de nossa atividade no sentido de contribuir para a produção nacional e diversificação de nossa matriz energética. E o setor está pronto a cumprir essa missão.
A participação do meio rural paulista, de modo específico, será importante para o atendimento à demanda de energia necessária para movimentar a economia brasileira em 2029, estimada em 380 milhões TEP (milhões de toneladas equivalentes de petróleo), representando crescimento de 2,9% ao ano. A necessidade dessa oferta está prevista no Plano Decenal de Expansão de Energia (PDE) do Governo Federal.
Como as fontes renováveis podem chegar à participação de 48% do total, os biocombustíveis em geral terão um papel relevante, como já vem acontecendo de modo crescente. Nesse aspecto, São Paulo terá participação expressiva, pois o PIB do seu agronegócio representa cerca de 20% do setor no País, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA).
Assim, é grande a participação paulista na geração de biocombustíveis e bioenergia, incluindo o etanol, o biodiesel e a bioeletricidade produzida a partir do bagaço e da palha da cana. Tudo isso tem sido potencializado pela mecanização da colheita e do plantio, que avançou bastante nos últimos 15 anos. Atualmente, a cogeração de eletricidade no País conta com 18,5 gigawatts (GW) de capacidade instalada em operação comercial, sendo que a biomassa da cana representa 62% desse total.
Também está crescendo a exploração do biogás e do biometano. O potencial de geração de biogás no Brasil é estimado em 82 milhões de metros cúbicos por dia (m3/d), o que significa mais do que o dobro da capacidade do gasoduto Brasil-Bolívia. Desse total, 56 milhões de m3/d representam volume a ser gerado pelo setor sucroenergético. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Ministério das Minas e Energia, a geração de biogás pelos subprodutos do setor sucroenergético, como a vinhaça e torta de filtro, deverá atingir 7,2 bilhões de Nm³ (Normal Metros Cúbicos) em 2029, representando 3,9 bilhões de Nm³ de biometano. São Paulo tem participação decisiva nisso.
O meio rural tem enfrentado, além da majoração da energia, outros fatores que vêm onerando seus custos, desde tributários até outros insumos, como fertilizantes, defensivos agrícolas e rações. Somando-se isso tudo às recentes geadas, dimensiona-se a perversa equação da majoração dos alimentos e outros produtos advindos do campo. Por isso, a despeito das intenções das autoridades no processo de interação com a sociedade, o País precisa ter muito foco neste momento nos reais problemas que têm prejudicado a retomada do crescimento e pressionado os índices inflacionários.
Fábio de Salles Meirelles é o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP).
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