Multiplicação dos peixes: SENAR-SP apoia produtores de tilápia
Com produção de 70.500 toneladas em 2020, o Estado de São Paulo vem se destacando na produção de tilápias, o peixe mais consumido pelos brasileiros: nada menos que seis em cada dez peixes cultivados no Brasil são dessa espécie. De acordo com dados da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), o estado ocupa o segundo lugar no ranking de produtividade.
Por trás desses resultados positivos está a contribuição do sistema FAESP/SENAR-SP, que oferece um curso específico para esse setor: Produção de Tilápia em Tanque Rede. Em 2021, o projeto já foi realizado em oito sindicatos rurais: Capão Bonito, Itirapuã, Lorena, Miguelópolis, Queluz, São José do Barreiro, São José dos Campos e Silveiras e, no segundo semestre, está programado para ser realizado em outros 17 Sindicatos Rurais.
Para Emerson Ronaldo Assi, coordenador do SENAR-SP no Sindicato Rural de Santa Fé do Sul, o sistema FAESP/SENAR-SP e o Sindicato Rural exerceram papel fundamental para o desenvolvimento da piscicultura na região, um trabalho que vem sendo desenvolvido desde a década de 1990, quando foram realizados os primeiros experimentos em tanque rede. “A partir daquele momento vislumbrou-se um novo potencial produtivo para a região, que hoje ocupa o principal polo produtivo do estado em produção de tilápia em tanque rede. Até hoje, por meio de ações de formação profissional voltadas ao setor, o SENAR-SP continua atuante e contribuindo para o desenvolvimento da cadeia”.
Kátia Mastroto, produtora e abatedora de proteína aquática, da Associação dos Piscicultores de Presidente Epitácio e Região (Aspiper), já passou por esse programa oferecido pelo SENAR-SP. Ela explica que a produção em tanque rede é muito mais barata do que em tanque escavados. “Além disso, fica mais fácil cuidar dos peixes. Conseguimos nos precaver de patógenos e off flavor, resultando em uma carne de ótima qualidade”, declara. A produtora acrescenta que esse modelo também permite a produção durante todo o ano, gerando empregos em todos os elos da cadeia. “Com as medidas de desburocratização que vêm sendo adotadas pelo governo federal, que facilitam a criação em tanques rede, muitos produtores de menor escala devem começar a criar também, aumentando em número considerável a produtividade”, comemora Kátia.
Produtividade
No Brasil, a produção de tilápias atingiu 486.155 toneladas, representando 60,6% do total de peixes cultivados produzidos no País no ano passado. Um índice que só cresce: em 2019 era de 57% e no ano anterior de 54,1%. Além disso, na comparação 2019-2020, a produção cresceu 12,5%. No que se refere aos peixes de cultivo de modo geral, em 2020, mesmo sendo um ano marcado por desafios, a piscicultura brasileira teve desempenho positivo, com crescimento de 5,93%. Com isso, a produção de peixes de cultivo saltou para 802.930 toneladas sobre as 758.006 toneladas registradas em 2019.
Para Emerson Assi, a expansão da produtividade deu-se em decorrência do aumento do consumo. “Iniciativas e ações do setor privado em melhorias genéticas, nutrição, manejo e uso de tanques de maior volume que, gradativamente, estão sendo utilizados. Tudo isso contribui para a maior produtividade, na medida em que os piscicultores sempre focam no aumento de produção para diminuir custos”, avalia.
Na opinião de Gláucio Doreide Cicigliano, piscicultor de Santa Fé do Sul, a atividade passou por dificuldades por dois anos consecutivos, 2018 e 2019. “Foi um período difícil em razão dos preços de mercado o que, consequentemente, desmotivou a atividade. Porém, com a retomada da procura por peixes e devido aos preços, a atividade voltou a aquecer. Alguns produtores que haviam deixado a atividade retornaram e também chegaram alguns novos investidores no setor”, explica.
De acordo com o Levantamento das unidades de piscicultura, elaborado pelo governo do Estado de São Paulo, a atividade de piscicultura começou a ser profissionalizada a partir do início da década de 1990, estimulada pela multiplicação de estabelecimentos de pesca esportiva, que criaram demanda e remuneração atraentes. O Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária (LUPA), realizado em 1995/96, identificou 3.725 Unidades de Produção Agropecuária (UPAs) com propriedades distribuídas em 458 municípios paulistas, sendo cerca de 70% delas com área de até quatro módulos.
No LUPA de 2007/2008 esse número já havia subido para 2.904 propriedades distribuídas nos 40 Escritórios de Desenvolvimento Rural (EDRs) da antiga Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (atual Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável – CDRS). Já em 2016/2017, detectou-se a existência de 3.337 imóveis rurais com exploração da atividade de piscicultura no Estado de São Paulo.
Exportação e tributos
Ainda de acordo com a Peixe BR, as exportações de tilápia são compostas por diferentes categorias de produtos. Em 2020, a categoria dos filés de tilápia frescos ou refrigerados foi a mais importante, totalizando US$ 5,2 milhões e representando 51,03% do total. Os óleos e gorduras e os subprodutos impróprios para alimentação humana (que incluem peles e escamas) foram a segunda e terceira categorias com 20,56% e 14,50%, respectivamente.
No âmbito do comércio exterior, o Estado de São Paulo representou, em 2020, o total de 500.479 toneladas, um aumento de 25,59% em relação ao ano anterior (398.488 toneladas). Em termos mundiais, em 2019 a produção brasileira de tilápia equivalia a 48% da produção do Egito – o maior produtor global. Em 2020, nosso país ampliou este índice para 51,8%.
Ainda há muito a ser aprimorado em termos de incentivos à atividade. Para o coordenador do SENAR-SP em Santa Fé do Sul, a aquicultura ainda não é vista pelo poder público com a importância econômica que merece ter. “Até agora o setor público não enxergou a aquicultura como importante atividade do agronegócio. A ausência de políticas públicas é uma das reclamações do setor. A atividade também sofre com o aumento de impostos. Como exemplo está a retroatividade para janeiro de 2015 na cobrança de ICMS para bares, restaurantes e peixarias, últimos atores na cadeia produtiva até que o pescado chegue ao consumidor”, diz Emerson Assi.
Um dos principais gargalos está nos custos de produção, com a incidência de alta carga tributária do farelo de soja e do milho, que são os insumos principais da ração utilizada pelos criadores. “Tivemos importantes avanços na área da nutrição e genética, que são de fundamental importância para a redução dos custos de produção. Porém, o principal fator no custo de produção está atrelado à ração e, infelizmente, com as recorrentes altas nos preços das matérias-primas, especialmente os grãos, a atividade volta a acenar para um momento difícil”, conclui Gláucio Cicigliano.
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