Home » FAESP faz balanço sobre a comercialização no Estado de São Paulo

FAESP faz balanço sobre a comercialização no Estado de São Paulo

20 de abril, 2020 - por FAESP/SENAR-SP

A Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo-FAESP realizou estudo apresentando um balanço sobre a situação atual da comercialização de produtos agropecuários no Estado de São Paulo. O levantamento foi realizado pela instituição entre 13 e 14 de abril, junto aos Sindicatos Rurais paulistas. O balanço se apoia nos relatos dos produtores rurais e lideranças que acompanham as atividades regulares dos produtores.

Ceagesp

Está operando, mas sob condições especiais. A feira de flores continua fechada. O varejão, feira livre do produtor, está funcionando nos fins de semana, mas a participação dos comerciantes é optativa.

Na prática, houve uma redução grande de comerciantes porque a demanda diminuiu. Estão participando os produtores que tem negócios previamente ajustados.

Abastecimento nas cidades – Segundo os relatos das nossas bases, os supermercados estão abastecidos e as feiras livres livres ajudam no acesso dos consumidores aos produtos frescos. Não há relatos de maiores problemas de abastecimentos nos mercados do interior

Hortaliças e Frutas

A venda aos supermercados tem fluido normalmente, mas o volume de vendas diminuiu bastante, em torno de 30% em hortifruti.

A venda para restaurantes, mercearias e quitandas continua pequena, apenas para atender estabelecimentos com delivery.

Venda de hortaliças para os supermercados deve ter diminuído uns 30% em volume, para os restaurantes, quitandas, mercearias e feiras a redução deve estar na casa de 50% a 60% (relato de Mogi das Cruzes).

Bananicultura (Vale do Ribeira) a venda foi reduzida em média 30%.

Cogumelos champignon as perdas chegam a 70% nas regiões produtoras de Mogi das Cruzes e Suzano. Nos demais cogumelos a perda é superior a 90%.

Flores

Continuam praticamente sem comercialização. É o segmento mais afetado pela quarentena. Algumas iniciativas foram introduzidas para promover a comercialização e reduzir o impacto sobre a renda dos produtores, mas na prática o resultado é ínfimo. A demanda foi reduzida a praticamente zero.

Plantas ornamentais à o escoamento é de no máximo 30%.

Flores para harmonização de ambientes à tem tido perda de 90% a 100%, não há vendas.

Feiras livres

Estão funcionando normalmente, mas sob condições especiais e seguindo os protocolos sugeridos pelo MAPA e Secretaria de Agricultura. Muitas feiras estão também com número reduzido de feirantes.

O número de consumidores também reduziu acentuadamente. As pessoas que estão confinadas acabam reduzindo o consumo de produtos frescos in natura. Como elas tentam diminuir a frequência das compras, dão preferência para alimentos de maior vida útil, que possam ser estocados por mais tempo.

Vale frisar que o público consumidor das feiras normalmente tem idade mais elevada, grupo que tem orientação para manter-se confinado.

Ovos

A demanda por ovos aumentou consideravelmente, por ser uma proteína importante que tem uma vida útil de prateleira razoável. Os preços subiram na esteira da demanda, mas custos também aumentarão.

Pecuária de Leite

A demanda por leite longa vida e leite em pó aumentou, mas o consumo de leite refrigerado e outros lácteos diminuiu. Houve impacto positivo e negativo na cadeia. Há relatos de pequenos laticínios que reduziram ou encerraram a captação de leite, pois comercializam com mercadinhos e padarias.

A tendência no curto prazo é de queda de preços no mercado spot (à vista) devido ao excesso de oferta do leite, visto que o leite que era destinado a queijarias e outros laticínios menores está atualmente sendo destinado à indústria de longa vida (UHT) e de leite em pó. Cooperativas que vendem no spot também estão sendo afetadas pelo repasse de preços mais baixos.

Pecuária de Corte

A pecuária de corte teve impactos limitados até o momento, quando comparado a outros segmentos, mas houve variação na demanda interna e externa. As exportações tendem a se recuperar mais rápido que a demanda interna, e o câmbio pode atenuar o impacto no faturamento dos frigoríficos.

Há previsão de redução no consumo interno, especialmente de cortes nobres, razão pela qual 11 plantas frigoríficas já estavam com suas atividades paralisadas até a primeira semana de abril, o que contribuiu para desvalorizar o preço da arroba do boi gordo no período.

Cana-de-açúcar

Expectativas pouco otimistas entre as usinas e fornecedores devido ao preço do petróleo que impacta os preços domésticos do etanol, que já vem perdendo competitividade em relação aos preços da gasolina nas bombas de combustível.

Preços mais baixos da gasolina levarão a um aumento de seu consumo em detrimento do etanol. Estimativas preliminares apontam para uma redução de 8 bilhões de litros (-24%) na produção de etanol na safra 2020/21, totalizando 25 bilhões de litros.

Um maior volume de cana deverá ser destinado para a produção de açúcar, cujos preços no mercado internacional também registram queda, mas tem a vantagem da estocagem.

Aves

Pequenas plantas frigoríficas registraram diminuição de 10% a 15% nos pedidos em função da queda de consumo nos serviços de alimentação. Os pedidos das redes de atacado e varejo, por sua vez, aumentaram devido a maior demanda dos consumidores por produtos congelados. Esse movimento não foi suficiente para melhorar o preço pago ao produtor independente. A falta de contêineres tem afetado as exportações.

Suínos

Os preços pagos pelo suíno registram queda e o produtor independente enfrenta ainda a menor demanda das integradoras por seus animais. A procura caiu em torno de 70%, dando preferência aos produtores integrados.

Laranja

Setor está sendo, no momento de estressafra, positivamente impactado pela pandemia do novo coronavírus devido à associação do consumo da fruta, rica vitamina C, ao aumento da resistência em casos de gripe comum.

No início de abril, o varejo registrou um aumento de 30% no consumo de laranja, em relação ao mesmo período do ano passado.

Os citricultores que abastecem o mercado de mesa estão sendo diretamente beneficiados pela valorização da fruta, em decorrência da oferta limitada. Para os 60-70% dos citricultores paulistas, que negociam sua produção com a indústria de suco, por meio de contratação antecipada, o aumento dos preços não representa maiores ganhos.

Grãos

Houve pouco impacto na comercialização de grãos até o momento. A colheita está avançando sem maiores problemas. Como os produtos podem ser estocados, não tendo elevada perecibilidade, a tendência é que esse subsetor não tenha maiores impactos com a pandemia.

A demanda externa pode sofrer algum impacto, mas o câmbio pode ajudar a atenuar esse efeito.

Café

Como produto de exportação, o café vem sofrendo com a diminuição dos negócios. Importadores estão retraídos no mercado por enquanto. A safra 2020 tende a ser robusta, o que pode afetar os preços, mas o consumo doméstico não foi afetado pela pandemia, ao contrário, em alguns casos aumentou. O câmbio, por outro lado, pode mitigar esse efeito.

Há uma preocupação entre os produtores com a colheita, considerando que a safra começará em breve e a colheita manual propicia aglomerações. O impacto da pandemia deve ser momentâneo, mas a possibilidade de estocagem do produto é um ponto favorável à atividade.

Insumos agrícolas

Em função da menor demanda e perdas de segmentos da agricultura, os produtores estão restringindo a produção do próximo ciclo de hortaliças. Os investimentos na produção de hortaliças e frutas, principalmente, estão paralisados. Revendas de insumos informam que há redução de cerca de 40% na venda de insumos para a agricultura.

Considerações Finais

Embora não esteja ocorrendo problemas de abastecimento com hortifruti no momento, há elevados riscos de escassez e elevação de preços em um segundo instante. Isso porque os produtores que estão perdendo sua produção não estão tendo incentivos para investir e continuar suas atividades. Portanto, poderá haver um descasamento entre a demanda e a oferta nos próximos meses.

É preciso apoiar os segmentos mais afetados imediatamente para evitar consequências piores no futuro. Os produtores precisam de crédito e do fortalecimento dos canais de escoamento da produção.

Compras públicas por meio dos programas governamentais são uma alternativa a ser priorizada no momento para a pequena agricultura. Programas como o PAA, PPAIS, PNAE devem ser utilizados e robustecidos pelos Governos Federal e Estadual.

    Assine nossa newsletter

    Compartilhe

    Deixe seu comentário