Estado de São Paulo prepara a pecuária paulista para se tornar zona livre de febre aftosa sem vacinação
O Estado de São Paulo é reconhecido como Área Livre de Febre Aftosa com vacinação pelo MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e pela Organização Mundial de Epizootias (OIE) – o último foco de febre aftosa no Estado ocorreu há 26 anos. Os índices de imunização contra a febre aftosa dos rebanhos paulistas de bovinos e bubalinos têm sido superiores a 98% nos últimos anos. A pecuária paulista tem um rebanho aproximado de 11 milhões de cabeças e se destaca no panorama brasileiro e internacional devido ao nível de qualidade e segurança sanitária.
Esses números são bastante positivos e foram alcançados, em grande parte, graças ao pecuarista, que realizou com eficiência a imunização dos animais durante as campanhas movidas pelos órgãos sanitários. A qualidade da produção está no mesmo nível dos melhores do mundo, e por isso tem espaço nos mercados mais rigorosos. Agora a meta é investir na evolução do status sanitário do Estado para o fim da imunização.
Mas por que deixar de vacinar?
Em tempos que vacinas são tão importantes, pode parecer estranho ter como meta a suspensão da imunização. Mas, nesse caso, não é simplesmente deixar de vacinar, e sim criar condições de cuidados sanitários e de vigilância bastante exigentes e eficientes, de modo a continuar combatendo a febre aftosa na pecuária sem que a vacinação seja necessária.
O Estado de São Paulo é signatário do Plano Estratégico do Programa Nacional de Vigilância Para a Febre Aftosa (PNEFA), que tem como meta principal a declaração do país como área livre da doença sem vacinação até 2026. Sete estados brasileiros já conseguiram essa certificação: Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Acre, Rondônia, parte do Amazonas e do Mato Grosso.
Vantagens econômicas: ampliar exportações
Manter a febre aftosa nos rebanhos sob controle sem o uso de vacinas poderá permitir ao produtor comercializar para países que pagam mais pela carne bovina – como Japão e Coreia do Sul, dentre outros que compram mais ou somente de países do circuito não-aftósico (sem uso de imunizantes). Ao receber a certificação de zona livre de aftosa sem vacinação, o Estado de São Paulo terá condição de competir por maior espaço nesses mercados.
Além de possibilitar a ampliação do mercado internacional, a retirada da vacinação impactará diretamente na redução de custos para o setor produtivo, o que se reflete no preço final para o consumidor. Haverá o corte dos gastos com o imunizante – que não é muito alto (hoje está em cerca de R$ 2,00/dose), mas é um valor multiplicado pela quantidade de animais na propriedade – e de outros custos relacionados ao processo de vacinação. Com a imunização não sendo necessária, evitam-se também situações de estresse com o manejo do gado, bem como eventuais acidentes com animais e trabalhadores rurais. Vale destacar que continua valendo o empenho dos produtores em relação à imunização contra outras enfermidades.
Melhor qualidade do produto
A febre aftosa afeta bovinos, bubalinos, caprinos, ovinos e suínos, causando prejuízos na comercialização de produtos pecuários. A doença exige esforços contínuos (e despesas!) dos produtores rurais e das autoridades sanitárias para sua prevenção e erradicação. Em relação ao mercado de carne suína, é grande o interesse por parte dos mercados asiáticos, por isso os protocolos sanitários empregados para o fim da vacinação poderão ser aproveitados para essa proteína com grande vantagem para a cadeia de produção e comercialização.
Outra vantagem com a retirada da imunização é quanto à necessidade de remoção de abcessos que surgem como resposta imunológica no organismo dos animais. Após o abate, esses abcessos têm de ser removidos da carne, gerando desperdício. Sem o uso de vacinas, eles deixarão de surgir.
Atingir a condição de zona livre de aftosa sem vacinação mostra para o mercado nacional e internacional a responsabilidade para com questões de sanidade animal e, consequentemente, a preocupação com o consumidor. Demonstra ainda a existência de um serviço de defesa agropecuária forte, com cuidados sanitários rígidos e eficientes, pronto para enfrentar adversidades.
Esse é o cenário ideal para o qual os diversos órgãos em nível federal, estadual e municipal estão empenhados em alcançar. Nesse processo, o produtor continua sendo fundamental para a vigilância de seus rebanhos, preservando os protocolos sanitários e se mantendo atento para qualquer suspeita da ocorrência da doença em algum animal – a notificação de casos suspeitos é obrigatória e deve ser feita sem demora, para assegurar providências e impedir a disseminação da doença. A capacitação dos veterinários e dos trabalhadores é uma parte importante desse processo. Na ausência da doença, o produtor deve prestar informações de maneira periódica, principalmente com relação ao estoque animal, entradas e saídas de animais da propriedade, e outras movimentações, pela emissão da Guia de Trânsito Animal (GTA).
São Paulo, estado pioneiro
Na conjuntura da questão sanitária, o Estado de São Paulo foi pioneiro em estabelecer programas de capacitação e comunicação, bem como iniciativas para a vigilância epidemiológica, e a FAESP é a principal entidade do setor privado nas discussões do PNEFA com o poder público e com os produtores. Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação, contextualiza a importância de o produtor para o Estado ter atingido a imunização total dos rebanhos. “Os pecuaristas vêm executando com responsabilidade sua função de garantir a imunização e a rastreabilidade dos animais para que tudo fique sob controle”, diz. Na atual campanha de imunização que está em andamento, os produtores estão enfrentando dificuldades para adquirir os imunizantes contra febre aftosa, porém isso não os impedirá de cumprir com suas obrigações, mesmo que seja necessário que a FAESP solicite maior prazo para a conclusão da segunda etapa de vacinação.
A FAESP representa o setor privado na Comissão de Coordenação dos Grupos Gestores (CCGE) do Bloco IV de Estados do qual São Paulo faz parte, como destaca Meirelles. “A Federação é a voz do pecuarista nesses importantes fóruns, levando as demandas do setor e cobrando ação do poder público na execução do PNEFA em nível estadual, além de contribuir ativamente com sugestões de melhorias do programa. Além disso, a entidade internaliza e executa as tarefas que são distribuídas para serem realizadas pelo setor privado”, diz.
Uma ferramenta que ajudará o produtor a concretizar esse processo pelo reconhecimento do Estado como zona livre de aftosa sem vacinação é o sistema de Gestão de Defesa Animal e Vegetal (GEDAVE) desenvolvido pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado. Parte dos pecuaristas – e dos produtores rurais como um todo – tiveram algumas dificuldades para se adaptar ao sistema no início de sua implantação, mas ele é um forte aliado para concentrar as informações dos programas de vacinação, algo fundamental no acompanhamento do processo de imunização, possibilitando a identificação de eventuais problemas com o andamento da campanha ou a dificuldade de aquisição de imunizantes e insumos.
A Federação faz um trabalho constante de conscientização sobre a educação sanitária junto ao pecuarista, fator vital para a evolução do plano de vigilância. “A FAESP faz o produtor entender sua importância como protagonista deste processo, engajando-o para a evolução e o bom desempenho econômico do setor”, explica Thiago Rocha, da Divisão das Comissões Técnicas da federação. Em parceria com os sindicatos rurais, a FAESP mantém contato permanente com os pecuaristas e trabalhadores, oferecendo oportunidades de capacitação permanente em programas desenvolvidos pela federação e pelo SENAR-SP.
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