Como a merenda escolar pode ser mais nutritiva e beneficiar a agricultura familiar
Com apoio da FAESP, projeto em Mogi das Cruzes introduz o shimeji na refeição dos alunos, valorizando os pequenos produtores
Em meados de setembro, as crianças da rede municipal de educação de Mogi das Cruzes começaram a provar um novo ingrediente na merenda escolar e amaram: o cogumelo shimeji. Pela primeira vez na história do município, o item passou a fazer parte do cardápio de mais de 30 mil alunos, que enriqueceram a dieta, já que o alimento tem um alto valor nutritivo. Mas as vantagens não se restringem aos alunos: o shimeji vem direto da horta de cinco produtores do município, fortalecendo a agricultura familiar.
O projeto é fruto dos esforços de vários atores, em um exemplo de parceria pelo bem comum: Secretaria Municipal de Agricultura da Prefeitura de Mogi, Sindicato Rural de Mogi das Cruzes, Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) – da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo – e produtores rurais. A iniciativa faz parte do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar a estudantes da educação básica pública. Um de seus objetivos é justamente a melhoria das condições nutricionais dos alunos. O Sindicato Rural de Mogi das Cruzes realiza um trabalho significativo, defendendo os direitos dos produtores, com apoio incondicional do Sistema FAESP/SENAR-SP através de assistência técnica e dos quase 170 cursos realizados na região.
A Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009, determina que, no mínimo, 30% do valor repassado aos municípios pelo PNAE seja utilizado na compra de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar. Essa condição foi o que favoreceu que os cogumelos dos pequenos produtores chegassem à mesa dos alunos em Mogi das Cruzes. “Algumas verduras já são fornecidas nesse modelo, que tem tudo para crescer”, avalia Gildo Takeo Saito, presidente da Comissão de Hortaliças, Flores e Orgânicos da FAESP. Segundo ele, serão entregues quatro mil toneladas do produto para as escolas municipais, até o final do ano.
Gildo cita dados que mostram como o alimento tão nutritivo ainda é pouco consumido no nosso país: um brasileiro come 260 gramas de shimeji por ano, enquanto um francês come dois quilos e um alemão come cerca de 2,5 quilos, no mesmo período. É uma fonte rica em proteína, sais minerais e fibras, que se torna uma opção de proteína de origem vegetal. O consumo em quantidades regulares fortalece o sistema imunológico e ajuda a melhorar a memória e concentração. Outra peculiaridade é que possui alta concentração de vitamina D, essencial para fixar o cálcio, ajudando a combater a osteoporose. Tudo isso reunido em um alimento saboroso, que a maior parte das crianças apreciou, nos testes sensoriais realizados antes de sua introdução no cardápio. Afinal, não basta ser rico em nutrientes; o ingrediente tem que ser apetitoso para os alunos, para que seja incluído na merenda.
“Eu vejo como a realização de um sonho essa parceria que beneficia tanto as crianças como a agricultura familiar”, avalia Marta Bezerra, engenheira agrônoma que atua na Secretaria de Agricultura e Abastecimento e é responsável pela interface com os produtores. Ela cita que o acordo demandou o empenho de vários anos do próprio secretário, Felipe Monteiro, na articulação de todos os atores envolvidos.
Futuros consumidores
“A cidade responde por 65% da produção nacional dos cogumelos e 80% dos produtores do país estão nessa região, conhecida como Alto Tietê”, enfatiza o representante da FAESP. Segundo ele, ao ministrar os cursos do SENAR-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) e apoiar os sindicatos rurais, a Federação concede uma ajuda fundamental aos agricultores, que lhes permite melhorar a gestão e alcançar resultados mais expressivos.
“Junto com o Sindicato Rural, nós vínhamos batalhando há vários anos por essa parceria e agora aconteceu. Das quatro mil toneladas a serem fornecidas, eu respondo por uma cota de 800 quilos”, celebra a produtora Jaqueline Mognon, uma das cinco envolvidas no projeto. Em sua propriedade, os cogumelos são produzidos há mais de 20 anos e hoje o shimeji é o carro-chefe. “Além do benefício nutricional para as crianças, essa iniciativa é muito interessante porque tornará o produto mais conhecido. As crianças vão comentar em casa e, certamente, vai despertar o interesse na família. Com isso, eu acredito que o consumo vai crescer”, prevê Jaqueline. Essa visão dos produtores é elogiada pela representante da Prefeitura. “Eles são muito antenados e estão apostando na formação desses ‘futuros consumidores’”, analisa Marta.
Os participantes atendem às especificações da agricultura familiar: trabalham basicamente com a família e não possuem mais que um funcionário, entre outras. “O Sindicato Rural teve um papel muito importante, auxiliando-os na documentação necessária e na adoção de medidas para que fossem ajustados ao modelo preconizado”, diz Gildo. Jaqueline confirma que as entidades envolvidas fizeram a diferença para o resultado do processo. “Nós, que somos produtores familiares, muitas vezes não temos tempo ou as informações para ir em busca do que é necessário para um fornecimento como esse. O apoio foi fundamental”, elogia.
Com todos os integrantes da cadeia atuando de forma tão integrada e otimista, a parceria deve se solidificar e pode avançar para outras localidades. “Podemos estender também para outras prefeituras. Apoiando os sindicatos rurais, a FAESP pode contribuir de forma muito importante nesse processo”, enfatiza Gildo. “Já que somos a ‘capital do cogumelo’ tínhamos que sair na frente. Acredito que poderemos firmar acordos semelhantes em cidades próximas”, analisa Jaqueline. Assim, mais alunos terão sua refeição enriquecida pelo shimeji, mais famílias poderão ser alcançadas com esse novo hábito alimentar e mais pequenos produtores serão beneficiados.
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