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As expectativas do agro quanto ao novo governo

27 de dezembro, 2022 - por FAESP

Fábio de Salles Meirelles*

Uma boa notícia para os brasileiros no final deste 2022 tão difícil é que, segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), nossa safra de grãos 2022/2023 deverá totalizar 313,03 milhões de toneladas, um novo recorde. O volume não só é superior ao da previsão anterior, como, o que é mais importante, significa crescimento de 15% em relação à colheita 2021/2022.

Números positivos da estatal também se observam na produção pecuária, com o abate de 30,1 milhões de cabeças de gado bovino, representando aumento de 2,9% na produção de carne. A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) projeta avanço de 3% para a carne suína, alcançando 5,1 milhões de toneladas, e o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê incremento de 3% da produção brasileira de carne de frango, com 14,85 milhões de toneladas, maior resultado em todos os tempos.

Assim, o setor rural dá uma resposta eficaz e oportuna ao nosso país e ao mundo, num momento no qual é muito importante e estratégico ampliar a produção de alimentos e commodities agrícolas, cujos preços internacionais encontram-se pressionados por questões geopolíticas e os efeitos de mais de dois anos de pandemia na produção, comércio exterior, custo dos fretes e dificuldades logísticas. A situação segue grave devido ao prolongamento da invasão da Rússia à Ucrânia, que também impacta os valores dos fertilizantes, insumos e grãos.

Com certeza, o empenho e a capacidade dos homens e das mulheres do campo em promover o crescimento da produção é uma contribuição importante para mitigar a escalada dos preços, considerando que o Brasil é um dos maiores fornecedores agropecuários mundiais. Assim, é imprescindível que o governo, a partir da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em janeiro próximo, siga apoiando o setor, cujo papel tem sido fundamental para a economia brasileira, gerando milhares de empregos, investimentos e divisas nas exportações.

Nesse sentido, é muito importante facilitar acesso ao crédito, com juros compatíveis, e garantir recursos proporcionais à demanda no próximo Plano Safra. Do mesmo modo, é necessário ampliar as verbas destinadas à subvenção do seguro rural, medida que pode e deve ser complementada pelos novos governos estaduais. Também é determinante o respeito à propriedade privada, para que os produtores rurais, inclusive os pequenos e agricultores familiares, tenham segurança patrimonial e jurídica. Outra iniciativa que esperamos do governo é a garantia do direito constitucional de ir e vir, com a adoção de medidas eficazes para impedir, por exemplo, o bloqueio de estradas, tão nocivo à movimentação das cargas dos produtos agropecuários.

O campo espera, sobretudo, merecer o reconhecimento do seu papel decisivo para a economia, a balança comercial e a geração de empregos, bem como de sua importância para a preservação de vastas áreas verdes e mananciais hídricos, nas reservas legais mantidas nas propriedades rurais. Cabe enfatizar, também, que os aumentos de produtividade, resultantes, dentre outros fatores, do aporte tecnológico, têm contribuído para significativa redução proporcional de terras cultivadas.

Um bom exemplo disso encontra-se na estimativa da área plantada com grãos na safra 2022/2023, de 76,82 milhões de hectares, alta de 3,2%. Há um ganho expressivo de produtividade, considerando-se que a produção crescerá 15%. Aliás, nos últimos 40 anos, a área plantada aumentou apenas 33%, ante 386% da produção. Sim, o agronegócio é sustentável: 61% da cobertura vegetal nativa do Brasil estão preservados, sendo que 11% do total estão dentro das 5,07 milhões de propriedades rurais do País. Na nossa matriz energética, 42,9%, contra 13,8% na média mundial, provêm de fontes renováveis, sendo 17% referentes ao setor sucroenergético.

Assim, esperamos que o novo governo também contribua para desmitificar conceitos ecológicos equivocados sobre o agro, que não condizem com a realidade e prejudicam o bom ambiente de negócios, inclusive influenciando a opinião pública e mercados internacionais. É de extrema relevância para o Brasil, a população e a economia que o presidente da República, governadores, deputados federais e estaduais e senadores a serem empossados em janeiro vislumbrem a agropecuária de modo condizente com seu significado para a segurança alimentar e a retomada do crescimento sustentado. Em todas as frentes, é prioritário colocar em primeiro lugar os interesses maiores do País.

*Fábio de Salles Meirelles é presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP)

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