Agronegócio e tecnologia na luta contra o aquecimento da Terra
Fábio de Salles Meirelles*
É notável a contribuição do agro e da tecnologia do Brasil na cruzada da humanidade contra as mudanças climáticas. Trata-se de uma jornada histórica iniciada muito antes de o aquecimento terrestre ser uma preocupação prioritária das nações, mais precisamente em novembro de 1975, quando se criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool). À época, foi uma resposta à majoração do petróleo no mercado global, mas que se tornou paulatinamente uma solução de caráter ecológico.
A tecnologia dos carros movidos a álcool, que viabilizou uma autêntica revolução na indústria automobilística, somente foi possível devido à mobilização dos produtores rurais do segmento sucroalcooleiro e da capacidade da engenharia de nosso país. Cabe lembrar que, a partir do desenvolvimento desses veículos, também se instalou toda uma cadeia de suprimento, com a multiplicação de usinas produtoras de etanol e uma rede nacional de postos de distribuição. Em qualquer ponto de nosso território há uma bomba para ao abastecimento com esse combustível.
Outra data emblemática dessa história é o dia 24 de março de 2003, quando foi apresentado o automóvel flex no Brasil. Foi a primeira vez que uma tecnologia tornou possível abastecer, em grande escala, um veículo com etanol, gasolina ou a mistura de ambos em qualquer proporção. Atualmente, a maioria dos carros que rodam no Brasil tem esse tipo de motor.
São muitos os ganhos ambientais propiciados pela utilização do etanol de cana-de-açúcar como combustível dos automóveis. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), ligada à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), obtém-se redução média, em relação à gasolina, de 89% na emissão de gases de efeito estufa, como dióxido de carbono, metano e óxido nitroso. Ademais, o álcool gera emissão zero de material particulado. É uma contribuição relevante do meio rural à sustentabilidade.
Agora, nosso país apresenta mais uma solução disruptiva na luta contra as mudanças climáticas: o carro elétrico autossuficiente, que não precisa ser ligado na tomada, nem consome a energia produzida nas usinas hidrelétricas e outras fontes. É o híbrido-flex, abastecido com etanol e um motor elétrico, que se retroalimenta automaticamente, podendo rodar o dobro de quilômetros com a mesma quantidade de combustível de um automóvel convencional. Mais de 40 mil unidades com esse sistema já circulam no País. Os modelos já estão sendo exportados.
A capacidade do Brasil de utilizar um combustível renovável, muito mais limpo e produzido com abundância e autonomia no próprio País transcende a questão ecológica, apresentando também uma perspectiva econômica relevante. Em momentos conturbados como vive hoje a humanidade, com a pandemia e a grande instabilidade geopolítica com epicentro na guerra entre a Rússia e a Ucrânia, é estratégico contarmos com o etanol, que nos confere mais independência em termos de mobilidade e logística e nos posiciona como protagonistas globais da sustentabilidade.
*Fábio de Salles Meirelles é o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp).
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