A hora e a vez do trigo paulista
Variedades com boa produtividade e preços em alta favorecem trigais de São Paulo; tecnologia e cooperativismo são aliados
A boa notícia chegou em meados de setembro, quando a Câmara Setorial do Trigo do Estado de São Paulo apontou para uma produção recorde este ano. De acordo com essa projeção, a safra de 2022 pode somar 400 mil toneladas, a maior da história. O que está por trás dessa evolução? De acordo com Simon Veldt, presidente da Cooperativa Agroindustrial de Holambra, o resultado da atual safra combina múltiplos fatores, que vão da agricultura à economia.
Ele conta que os produtores paulistas de trigo foram, de fato, surpreendidos positivamente pela elevação do preço do cereal no mercado internacional, com o início da Guerra da Ucrânia. Mas o bom momento internacional só pode ser bem aproveitado por conta de um trabalho de longo prazo, intensificado ao longo da última década: a busca por qualidade. “Nos últimos dez anos a área plantada vem crescendo, impulsionada por novas variedades com mais qualidade e produtividade. Saímos de um patamar de 50 sacas por hectare e agora estamos falando de 80 ou 90 sacas. E este ano, com a guerra da Ucrânia, o preço do trigo subiu, estimulando o crescimento da área plantada. A conjuntura de mercado é favorável”, sintetiza.
Trigo em São Paulo – Segundo o Sindicato da Indústria do Trigo de São Paulo (SINDUSTRIGO), municípios como Assis, Avaré, Botucatu, Bragança Paulista, Itapetininga, Limeira, Ourinhos, Pindamonhangaba, São João da Boa Vista e Sorocaba também se destacam pela produção de trigo. Na Holambra, o negócio começou há cerca de meio século. “Cultivamos trigo aqui na região desde a década de 1970. Estamos na região sudoeste do Estado, e por aqui toda a região é forte nessa cultura cerealista. Antigamente a região do médio Paranapanema também era importante, e pode voltar a produzir bem”, analisa o presidente da cooperativa.
Dados compilados pelo SINDUSTRIGO, bem como os publicados pela CONAB, reforçam que a produtividade do trigo está em linha de crescimento. Na safra 2019/2020, a área plantada no estado era de 100,50 mil hectares, ante 104,10 mil em 2021/2022. A produção, por sua vez, saltou de 311 mil toneladas para 326 mil no mesmo período, e a produtividade foi de 3,094 quilos por hectare para 3,129 kg/ha.
Para este ano, as perspectivas também são boas, inclusive entre os cooperados de Holambra. “O clima favoreceu. Existem áreas batendo 100 sacas por hectare, um recorde entre os cooperados. A chuva na colheita preocupa um pouco, mas não tanto porque a capacidade de colheita é muito grande, e com três ou quatro dias de sol vai muito rápido. Além disso, a capacidade de recepção da cooperativa também é muito grande”, completa Veldt.
Tecnologia e futuro
Essa trajetória positiva pode ser intensificada. Para tanto, diz Veldt, é preciso que continue se investindo em variedades de boa produtividade, adaptadas ao clima local e com boa resistência a doenças. O foco está na conquista da competitividade internacional. “É fundamental ter variedades com qualidade e produtividade cada vez mais altas, para que sejamos competitivos internacionalmente. Estamos chegando lá. Mas o custo de produção na Argentina e na Rússia, por exemplo, é muito baixo, então não é fácil competir”, pondera o presidente da cooperativa.
O objetivo deve ser o equilíbrio entre produção e consumo interno. Por enquanto, o Brasil consome mais trigo do que é capaz de produzir. Quando essa proporção se inverter, ou chegar à paridade, o trigo nacional será mais interessante economicamente. “Hoje o nosso preço é o custo da importação, ou seja, o mercado internacional, mais o frete. Quando tivermos produção nacional acima do consumo, nosso preço será o internacional menos o frete. Esse é o ponto de equilíbrio que esperamos chegar nos próximos anos no Brasil”, explica Veldt.
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