Agro paulista mostra bons resultados, mas 2023 será desafiador
*Fábio de Salles Meirelles
O setor agropecuário brasileiro, em especial o paulista, se destacou nos últimos anos pela capacidade de gerar investimentos e empregos, mesmo nos momentos econômicos mais críticos. O agro paulista fechou o ano de 2022 com os melhores resultados dos últimos três anos, superando todas as turbulências, conforme os dados do Balanço do Agronegócio Paulista, elaborado pelo Departamento Econômico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP). Conforme o Balanço, o Valor Bruto de Produção (VBP) no Estado projetado para 2022 é de R$ 139 bilhões, contra R$ 122 bilhões no ano passado e R$ 94 bilhões em 2020.
Enfrentamos desafios como a pandemia de Covid-19, que ainda gera consequências sobre a economia mundial, bem como sobre a brasileira. O processo inflacionário também ganhou força e tornou-se um problema global. Já o conflito Ucrânia/Rússia, deflagrado em fevereiro de 2022, causou restrições ao comércio na região e gerou sanções à economia russa, trazendo choques aos preços das commodities.
Algumas cadeias de suprimento do mundo ainda continuam tentando normalizar fluxos e processos, com fortes oscilações nos preços das commodities. O agro teve de se adaptar a um cenário de arrefecimento da demanda doméstica, restrita pelo baixo poder aquisitivo da população, que foi atingido pela inflação de 2021 e 2022. E ainda enfrentou intempéries climáticas, com geada e seca.
Também ocorreram problemas econômicos internos, como a dificuldade de acesso ao crédito e custeio e investimento, com suspensão de linhas do BNDES, insuficiência de recursos para o programa de subvenção ao prêmio de seguro rural. O custo de produção subiu expressivamente em 2022, em algumas culturas acima de 70%, na esteira da inflação de combustíveis e fertilizantes.
Os desafios para 2023 não serão menores
O cenário base esperado pela FAESP é de que haverá turbulência nos mercados brasileiros até uma definição quanto aos rumos da política fiscal adotada pelo novo governo federal a partir de 2023.
Também preocupa, especificamente, a proposta de cisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A FAESP enviou ao vice-presidente eleito e coordenador da Grupo de Transição (GT) do governo federal, Geraldo Alckmin, um ofício solicitando a reconsideração desta proposta.
Sob a ótica administrativa, entendemos que a unificação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Ministério do Desenvolvimento Agrário trouxe muitos ganhos para a construção das políticas voltadas à agropecuária brasileira.
A discussão em curso no GT da Agricultura prevê uma nova subdivisão do MAPA, com a criação do Ministério da Agricultura Familiar e Alimento Saudável e transferência de programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e de órgãos como a ANATER (Agência Nacional de Assistência Técnica) e a CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) sendo fatores de preocupação no setor agropecuário.
Além da questão da eficiência administrativa, a criação de novos ministérios eleva as despesas do Governo e pode criar sobreposição de políticas públicas. A expansão dos gastos promove o desequilíbrio fiscal, com consequências nefastas para a economia brasileira, como a elevação das taxas de juros.
O agro também está atento a outros quesitos que dependem das políticas adotadas pelo próximo governo. Tememos a taxação das exportações e a adoção de uma postura protecionista, com menor busca por acordos comerciais e acesso a novos mercados.
Igualmente nos preocupa o aumento de conflitos e a intranquilidade no campo, cenários indesejados para todos os produtores brasileiros e paulistas.
*Fábio de Salles Meirelles é presidente do Sistema FAESP/SENAR-SP
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