O campo precisa de amplo acesso ao 5G
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção brasileira em 2020/21 será de 272,3 milhões de toneladas, o que representa aumento de 6% sobre o período anterior. A área plantada cresceu 3,6%, totalizando 68,3, e a produtividade média, de 3.989 quilos por hectare, avançou 2,3%. Este último aspecto corrobora uma tendência muito forte do agronegócio nacional: nos últimos 40 anos, as terras ocupadas por culturas expandiram-se em 33%, mas a produção agrícola deu um significativo salto de 386%.
Os números deixam muito claro que o aumento da produção está diretamente atrelado aos ganhos de produtividade. Estes resultam do crescente aporte tecnológico na agropecuária, não apenas no tocante à qualidade das sementes, fator no qual é notável a importância das pesquisas e do trabalho da Embrapa, como também dos defensivos, implementos e máquinas agrícolas e, mais recentemente, da informática. Nesse sentido, as perspectivas são muito positivas, pois o iminente advento do 5G no Brasil terá impacto expressivo no setor.
Drones, já utilizados, terão operações ainda mais facilitadas e eficazes, viabilizando a agricultura de precisão. Ou seja, monitorando a cultura e identificando, por meio da inteligência artificial, plantas infectadas, permitem a aplicação localizada de defensivos agrícolas, com economia, ganhos ecológicos e de eficiência. Outra possibilidade concreta será a operação remota de tratores, colheitadeiras e implementos agrícolas autônomos, com aumento do horário de trabalho. Hovers, como são chamados os veículos autônomos, realizarão o reconhecimento de trajetos, por meio de sensores capazes de coletar dados como umidade e temperatura, alinhados em tempo real à previsão do tempo.
O 5G também tornará viável a conexão de sensores conectados ao solo, às plantas e aos animais e controle remoto inteligente dos sistemas de irrigação. Estará presente em todas as fases da lavoura, desde a preparação da terra e plantio até a colheita ou criação e manejo do gado. Todos os dispositivos estarão interligados à nova rede da internet de alta velocidade.
Sem dúvida, a agropecuária será um dos setores nos quais a nova tecnologia terá maior efeito transformador, modernizador, de produtividade, eficiência e rentabilidade. Para isso, porém, será muito importante que a rede 5G contemple toda a áreas rurais brasileiras. Tal abrangência é coerente com o significado do setor, o único cujo PIB cresceu em 2020 e que tem sido o ponto de sustentação do superávit de nossa balança comercial.
Entretanto, os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que 21% das populações rurais não têm acesso à internet banda larga no País. Assim, solucionar essa questão, contemplando também as pequenas e médias propriedades e a agricultura familiar, é uma das prioridades no processo de implantação da nova tecnologia. O setor rural precisa incorporar todos os avanços proporcionados pelo 5G, para continuar ampliando sua produtividade e capacidade de gerar empregos, renda e exportações, bem como manter o Brasil como protagonista global da produção de alimentos e commodities.
*Fábio de Salles Meirelles é o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp).
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